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domingo, 13 de março de 2016

PMDB decide isolar Dilma ainda mais

No dia em que é alvo de mais manifestações por seu impeachment, a presidente Dilma Rousseff (PT) se vê cada vez mais distante do principal partido de sua base de sustentação. Em uma convenção marcada por críticas ao governo, o PMDB proibiu ontem seus filiados de assumirem novos cargos na administração petista nos próximos 30 dias. Também ficou decidido que, no mesmo período, a legenda terá de se posicionar sobre um pedido de rompimento oficial, com a entrega dos ministérios já ocupados por peemedebistas. De imediato, as deliberações atingem o deputado federal Mauro Lopes, que assumiria a pasta de Aviação Civil nesta semana em nome da bancada de Minas Gerais e agora ficará sem o cargo.
Desde cedo, a convenção que reconduziu o vice-presidente Michel Temer como presidente do PMDB por mais dois anos já tinha caráter oposicionista, com gritos de “Fora, Dilma”, “Fora, PT” e discursos majoritariamente pró-impeachment. A ala mais insatisfeita com a aliança apresentou um documento, a Carta de Brasília, assinada por deputados federais e estaduais, que pediu a saída imediata do governo para que o PMDB “recupere o protagonismo político”. No documento, os peemedebistas expõem um quadro crítico e decretam: “Na base de tudo está uma condução desastrada do país, sem rumo, e sem esperanças de melhora para a sociedade. É um Governo inchado, desacreditado e incapaz de melhorar serviços públicos essenciais como saúde, educação e segurança. Diante de tal quadro, o PMDB não pode ficar de braços cruzados. É hora de nos posicionarmos, claramente, ao lado da sociedade”. Conforme mostrou ontem o Estado de Minas, como não havia força para decisões mais radicais, foi fechado um acordo para dar o prazo de 30 dias, uma espécie de aviso prévio para Dilma.
Durante o encontro foi feita uma consulta e o vice-presidente Michel Temer concordou em colocar o assunto para deliberação. Isso depois de consultar o PMDB de Minas Gerais, já que seriam os mineiros que perderiam um ministério com a proibição imposta até que se decida sobre o rompimento. Os mineiros não fizeram questão do posto. Um dos mais moderados no encontro, Temer também não se esforçou para defender Dilma. O vice da petista disse que não se pode ignorar que o Brasil vive uma “gravíssima crise”, mas ponderou que não é hora de acirrar os ânimos. “A hora é de construir pontes e isso o PMDB está fazendo. Sairemos daqui hoje unidos para resgatar e reencontrar os valores da nossa República”, afirmou.
Temer chegou ao palanque com um coro de “Brasil para frente, Temer presidente”. O vice-presidente disse estar incentivado a pregar “a unidade nacional”, mas não deixou de se apresentar como alternativa, lembrando que tem propostas para conduzir o país na saída da crise, especialmente no campo econômico. Integrantes da ala que defende a continuidade no governo, como o líder do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani, não discursaram para defender a aliança com Dilma, o que deu ao encontro uma conotação ainda mais oposicionista. Cinco dos sete ministros do PMDB no governo estavam presentes mas também não usaram o palanque para defender Dilma.
O vice-presidente do PMDB, senador Valdir Raupp (RO), disse que o país não conseguirá sair da crise com a atual presidente. “Espero que os senhores deputados abram o impeachment tão logo o Supremo Tribunal Federal (STF) decida sobre o rito para que o Senado possa tomar sua posição e possamos virar essa página”, disse. Ele foi um dos que defenderam a entrega dos cargos no governo. Os núcleos do PMDB também se posicionaram, em sua maioria, pelo afastamento do governo.

Nas ruas


O presidente do PMDB da Bahia, Gedel Vieira Lima, a quem coube defender a moção de rompimento em até 30 dias com Dilma, aproveitou o discurso para chamar os peemedebistas para participar das manifestações de hoje e, segundo ele, estar “com a rua”. O ex-ministro Moreira Franco disse que, no caso de um eventual rompimento, Temer fica onde está, já que sua função constitucional é substituir a presidente. Ele indicou que o partido vai “ouvir” as manifestações de hoje para tomar sua decisão.

Filiada ao PT até o ano passado, a senadora Marta Suplicy disse em seu discurso que a presidente Dilma não dá conta do recado e que impeachment não é golpe. Ela usou um adesivo com os dizeres “saída já” ao dizer que o PT estagnou a economia brasileira. Para ela, não resta outra saída ao PMDB que não a de abandonar o governo. “Entendo muito bem a posição da Executiva de que aqui não é deliberativo, mas daqui a 30 dias sai todo mundo desse governo e nós começamos um novo momento constitucionalmente correto com a chegada ao poder do vice-presidente da República Michel Temer”, afirmou. “Esse governo vai cair. O que temos que decidir é onde queremos estar no momento em que isso acontecer”, gritava o deputado federal Carlos Marun (MS).


O deputado Osmar Serraglio (PR) chegou a defender, sem sucesso, que o rompimento com o governo Dilma já fosse aprovado ontem, alegando que o prazo concedido seria a tática da não decisão. “Vamos sair de cabeça baixa, envergonhados porque o PMDB não tomou atitude nenhuma? Ou temos um momento histórico ou talvez um dos mais pífios de toda a trajetória do PMDB”, afirmou.

Na convenção, o ex-presidente José Sarney (AP) teve o nome anunciado como presidente de honra do PMDB, mesmo com algumas vaias. Ele foi com o braço imobilizado devido a um acidente em casa, e disse ter se esforçado para comparecer.

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