O procurador Carlos Fernando dos
Santos Lima, da força-tarefa da Operação Lava Jato, criticou nesta
quarta-feira (30) a possibilidade de firmar acordo de leniência com a
Odebrecht.
Na visão do procurador, um acerto nesse sentido serviria para “salvar o patrimônio da família que controla essa empresa”.
“Os empregos vão e vêm. Nesse caso, nós
estamos falando em salvar o patrimônio dessas famílias”, afirmou, após
citar o caso da “empresa que tinha planilhas de propina”. A fase mais
recente da Lava Jato revelou que a Odebrecht mantinha uma diretoria
especifica para tratar de propina. Pouco depois, foram incluídos nos
processos da operação planilhas com informações de pagamentos da empresa
a políticos.
Sobre uma possível troca de presidente,
Santos Lima disse acreditar que a eventual mudança no Palácio do
Planalto não deve alterar o curso da Lava Jato.
“Em um país com instituições sólidas, a
troca de governos não significa absolutamente nada”, disse. “Eu quero
crer que nenhuma troca signifique mudança de rumos para o Ministério
Público”, acrescentou.
O procurador também elogiou os governos
do PT que, segundo ele, permitiram o fortalecimento da PF e do
Ministério Público, sem intervir. “Os outros governos intervinham
mesmo”, disse.
GRAMPOS
Santos Lima defendeu o juiz federal
Sergio Moro, responsável pela Operação Lava Jato, no caso dos grampos do
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
“O juiz Moro está pagando um preço
desnecessário. Todas as decisões que tomamos têm uma repercussão
política mas, quando eu escolho não dar publicidade, ninguém nem fica
sabendo da escolha tomada. É sempre preferível a publicidade”, defendeu.
Ele argumentou ainda que sigilo é perfeitamente justificável em casos envolvendo família, mas não em casos envolvendo políticos.
FORO
O procurador criticou o foro
privilegiado no Brasil, que faz com determinadas autoridades só possam
ser alvo de ação em tribunais superiores.
“No Brasil temos uma república de
desiguais, que cria facilitadores para a corrupção. Eu só posso ser
acusado e julgado no Superior Tribunal de Justiça. Temos no Brasil 22
mil pessoas com foro privilegiado”, disse.
Ele afirma que, como o STF não é uma
corte criminal, há risco de prescrição dos processos contra políticos
investigados na Lava Jato.
“[O foro] Não é por si só criminógeno,
mas é facilitador da impunidade. Imagine se uma dessas listas com cento e
tantos políticos for julgada pelo STF. Certamente haverá a prescrição. O
Supremo não é uma corte que saiba julgar processo penal, é uma corte
constitucional”, disse.
“Tudo lá é ritualístico, é demorado. Não
estou desmerecendo o Supremo, estou criticando a maneira que escolhemos
para julgar a classe política”, completou.
Folha Press
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