Sob o impacto da maior manifestação de rua da história do país,
cresceu nas últimas horas a pressão do PT para que Lula ocupe um
ministério no que restou do governo de Dilma Rousseff. Disseminou-se na
cúpula do partido o entendimento segundo o qual a presença de Lula no
primeiro escalão pode ser a única cartada capaz de deter o avanço do
impeachment. Deseja-se que o criador de Dilma atue como uma espécie de
tutor de sua criatura, articulando uma reação.
Desde que a plataforma eleitoral de Dilma se converteu em estelionato
político, já nos primeiros meses depois do início do segundo mandato, o
país esperava pelo sinal de que o fim estivesse próximo. Os protestos
deste domingo justificaram o uso do ponto de exclamação que costuma soar
quando as pessoas dizem “tudo tem limite!” O asfalto emitiu um sinal
eloquente.
Nesta segunda-feira, 14 de março de 2016, restam 1.021 dias de
mandato para Dilma. Foram transformados pelas ruas em epílogo. Longe dos
refletores, não se ouve nenhuma voz capaz de apostar uma pataca na
permanência de Dilma no cargo por tanto tempo sem um milagre. Para o
petismo, o milagre se chama Lula.
Na noite passada, o repórter perguntou a um dos devotos de Lula que
mágica ele faria para conseguir tirar uma cartola de dentro do coelho.
Eis a resposta: “O Lula é, a essa altura, a única lideranças capaz de
virar o governo do avesso, dando a ele um rumo.” A afirmação baseia-se
num tipo de fé que parece mais cristã do que política. A esse ponto
chegou o governo Dilma.
É improvável que Lula, cuja santidade encontra-se sub judice
em vários inquéritos, consiga soerguer o governo Dilma. Mas sua
conversão em ministro seria um castigo do destino proporcional aos seus
pecados. Primeiro porque parte do desgaste de Dilma se deve a ele, já
que o petrolão, assim como o mensalão, foi idealizado e implementado na
sua gestão. Segundo porque a fábula do talento gerencial de Dilma é de
sua autoria.
São três os mecanismos legais que podem ser usados para encurtar o
mandato de Dilma: a renúncia, que ela rejeita; a cassação da chapa
presidencial pela Justiça Eleitoral, que depende de um processo
demorado; e o impeachment, que o eventual desembarque do PMDB pode
apressar no Congresso. Nas próximas semanas, não se falará noutra coisa
em Brasília.
O epílogo de Dilma pode ser longo ou curto. Por ora, a única certeza é
que, com Lula no ministério, o ocaso seria mais divertido. De saída,
seria hilário observar a ginástica verbal que o personagem faria para
negar que sua nomeação tivesse o objetivo de lhe escondê-lo do juiz
Sérgio Moro, atrás do biombo do foro privilegiado.
Por JOSIAS DE SOUZA
Nenhum comentário:
Postar um comentário