Um
dos líderes da tropa do governo no Congresso respondeu assim quando lhe
perguntei, ontem, se havia alguma chance de o pedido de impeachment da
presidente Dilma ser derrotado dentro da Comissão Especial que o
examina, formada por 65 deputados de todos os partidos representados na
Câmara:
– Esquece. Ali já perdemos. Vamos tentar ganhar quando o relatório da comissão for votado no plenário.
De outro político com largo trânsito no
Palácio do Planalto, e com quem Lula costuma se reunir, ouvi que o
governo, no momento, não conta com mais de 20 votos na comissão.
Favorável ou contrário ao impeachment, o
relatório será votado no plenário da Câmara. Para aprovar o impeachment
serão necessários 342 votos de um total de 513.
Com 171 votos, o governo derrota o
impeachment. O que não quer dizer que ele precise pôr no plenário 171
deputados que o apoiem. Se os 171 faltarem à votação, por exemplo, é o
que bastará para o governo vença.
– Um governo que não disponha de 171
votos em 513 não merece continuar governando – comentou outro dia o
ministro Ricardo Berzoini, da Secretaria de Governo da presidência da
República.
Na manhã de ontem, quando o jornalista
Fernando Rodrigues postou em seu blog a lista com os nomes de pelo menos
200 políticos de 34 partidos que teriam recebido dinheiro da
construtora Odebrecht, auxiliares de Dilma avaliaram que o fato ajudaria
o governo em sua luta contra o impeachment.
Nas redes sociais, deputados do PT,
blogs e sites fiéis ao governo, celebraram a divulgação da lista.
Afinal, disseram, como um Congresso, atingido por denúncia tão grave,
poderia sentir-se autorizado a derrubar a presidente da República?
No início da noite, nem PT nem
auxiliares de Dilma pensavam mais assim. Passaram a temer que deputados e
senadores citados na lista possam apressar a aprovação do impeachment
para se livrar logo de um governo que carece de forças para proteger
sequer os seus.
De resto, não se tem certeza da
ilegalidade do dinheiro distribuído pela Odebrecht aos políticos. Pode
ter sido dinheiro doado legalmente para o financiamento de campanhas. Ou
só parte do dinheiro ter saído de caixa dois. A polícia levará muito
tempo para investigar cada doação.
O governo seguirá empenhado em salvar
Dilma do impeachment usando as únicas armas, de fato, ao seu alcance. A
saber: oferta de cargos; promessa de liberação de verbas para a
construção de obras nos redutos eleitorais de deputados e senadores; e
ações na Justiça.
Sim, e ainda o discurso do golpe, que o
governo imagina ser capaz de mobilizar seus adeptos e levá-los para as
ruas em sua defesa. Quem sabe o risco de conflitos violentos não possa
assustar deputados, senadores e partidos dispostos a aprovar o
impeachment?
O Palácio do Planalto virou um palanque
para os adversários do impeachment. Não se passa um dia sem que Dilma
realize, ali, uma cerimônia que sirva a manifestações contra o golpe
que, segundo ela, ameaça a democracia brasileira.
Não importa que até embaixadores
estrangeiros tenham transmitido seu espanto com isso em despachos
enviados para os seus governos. Não importa que, somente ontem, dois
ministros do Supremo Tribunal Federal, Carmem Lúcia e Dias Tóffili,
tenham declarado que impeachment não é golpe, é instrumento previsto na
Constituição.
E não importa também que os presidentes
Barack Obama, dos Estados Unidos, e Maurício Macri, da Argentina, tenham
dito que a democracia brasileira amadureceu, e que o sistema de leis e
as instituições por aqui estão fortalecidos o suficiente para superar
eventuais dificuldades.
O impeachment, para o governo, o PT e
seus aliados, só deixará de ser golpe se acabar rejeitado pelo
Congresso. Quanto ao impeachment de Fernando Collor, cobrado na época
pelo PT, esse não foi golpe. Como não foi golpe a iniciativa do PT de
pedir o impeachment do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
O Globo – Ricardo Noblat
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