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segunda-feira, 14 de março de 2016

‘Não quero a democracia de fachada que o Brasil tem hoje’, diz fundador do PT e autor do pedido de impeachment contra Dilma

O advogado Hélio Bicudo fez questão de se embrenhar na multidão da Avenida Paulista, apesar do corpo miúdo e dos 94 anos de idade. “Fui corredor na juventude”, diz. “O chamado das ruas que me trouxe aqui”. Ministro da Fazenda no governo João Goulart, encerrado pelo golpe militar de 1964, Bicudo passou de fundador do Partido dos Trabalhadores, em 1980, a autor do pedido de impeachment contra a presidente Dilma, em setembro passado. As manifestações de 13 de março são reflexo de seu empenho para criar um partido, e de sua desilusão com ele. O advogado discursou em cima do carro de som do movimento Vem pra Rua e posou para fotos em meio à multidão. “Agora vai, hein?”, ouviu de manifestantes. De selfie em selfie, o advogado levou 30 minutos para atravessar duas quadras entre a Paulista e um hotel de luxo da região, onde parou para beber água e conversar com ÉPOCA. Em seguida, planejava voltar para casa, a pé — uma caminhada de pelo menos 40 minutos. “Maria Lúcia não queria que eu ficasse muito tempo fora”, diz, com um sorriso moleque, sobre a filha de 62 anos. “Provavelmente, não vai gostar de saber que ainda estou aqui”.
ÉPOCA – Em mais de cinco décadas de vida pública, o senhor viveu o fim da ditadura Vargas, o golpe de 1964, a redemocratização, o impeachment de Collor. No que as manifestações de 2016 diferem das anteriores?
Bicudo – Estou vendo hoje algo que nunca vi. É uma mobilização espontânea e apartidária do povo. O Brasil precisa de uma mudança radical e os parlamentares que estão no poder precisam atender a esse chamado. À medida que os parlamentares entregarem o poder de elencar o que precisa ser tratado, o que é prioridade, vão se abrir saídas. Não quero para o Brasil uma democracia de fachada como é hoje.
ÉPOCA – O que o senhor chama de democracia de fachada?
Bicudo – Os partidos de hoje não representam em nada a população, apenas seus próprios dirigentes. Democracia é liberdade e participação. Onde estão os pobres? Onde estão os trabalhadores? A gente tem hoje um governo de elites e precisa de um governo para o povo, que nunca tivemos.
ÉPOCA – O Partido dos Trabalhadores afirma ter tirado da miséria mais de 30 milhões de brasileiros, nos governos Lula e Dilma. Isso não é inclusão?
Bicudo – Quando Plínio de Arruda Sampaio me chamou para fundar o PT, ele sentia a necessidade de trabalhar pelo povo. O objetivo dos fundadores era claro: atender as demandas do povo. Com o escândalo do mensalão, em 2005, eu deixei o partido. Constatei que a preocupação com o povo não era uma preocupação nacional. O governo Lula não avançou em nenhuma causa séria. O propósito era pessoal. Eles estavam ali não pelo Brasil, mas pelo Lula e pelo PT. Não tem cabimento alguém dirigir a sua vida. É o que Lula e o PT querem fazer, hoje.
ÉPOCA – Por que pedir o impeachment de Dilma?
Bicudo – O Brasil precisa de uma vassourada geral, uma limpeza política do zero. O povo está nas ruas pedindo essa mudança. Esse caminho só será possível com o impeachment. Depois, precisamos costurar uma nova fase política. É preciso um debate abrangente para dar caminho ao Brasil. Um movimento como esses não pode ser conduzido por um partido ou pela vontade de alguém. É o que estamos vendo nas ruas. Acho maravilhosa essa manifestação popular apartidária. Dou graças a Deus por ter vivido até hoje.


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