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segunda-feira, 14 de março de 2016

Lula admite que diretores de instituto podem ter pedido dinheiro a empresas da Lava-Jato; veja depoimento do ex-presidente

Em depoimento à Polícia Federal no último dia 4, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva negou ter procurado qualquer empresa envolvida na Lava-Jato para pedir doações para o Instituto Lula, mas admitiu que funcionários do instituto, como Paulo Okamotto e Clara Ant, podem ter pedido dinheiro “a todas” as empresas.
Indagado pelo delegado se procurou alguma empresa, Lula disse:
— Não, porque não faz parte da minha vida política, ou seja, eu desde que estava no sindicato eu tomei uma decisão: eu não posso pedir nada a ninguém porque eu ficaria vulnerável diante das pessoas.
Mas o ex-presidente não descartou que assessores seus possam ter mantido alguma relação com essas empresas.
O ex-presidente foi levado a depor coercitivamente na 24ª fase da Operação Lava-Jato. A força-tarefa suspeita que o petista era um dos beneficiários dos crimes na Petrobras.

Lula afirmou no depoimento que “ninguém que procura ninguém espontaneamente para dar dinheiro” e que se precisa de recursos para fazer um projeto “tem que pedir”. No depoimento, colhido no Aeroporto de Congonhas, o ex-presidente ficou irritado ao ser questionado sobre as doações ao Instituto Lula.
O delegado da PF pergunta se é comum as empresas procurarem espontaneamente o Instituto Lula para oferecer doações. Lula responde que não:
– Não. Aliás, eu não conheço ninguém que procura ninguém espontaneamente para dar dinheiro, nem o dízimo da igreja é espontâneo, se o padre ou o pastor não pedir, meu caro, o cristão vai embora, vira as costas e não dá o dinheiro, então dinheiro você tem que pedir, você tem que convencer as pessoas do projeto que você vai fazer, das coisas que você vai fazer. Lamentavelmente, no Brasil ainda não é uma coisa normal, mas no mundo desenvolvido isso já é uma coisa normal, ou seja, não é nem vergonha, nem crime, alguém dar dinheiro para uma fundação, aqui no Brasil a mediocridade ainda transforma tudo em coisas equivocadas.
Por mais de uma vez, o ex-presidente respondeu rispidamente as perguntas dos agentes da Polícia Federal. Um dos momentos que mais incomodou o ex-presidente foi quando questionado sobre quem era o responsável dentro do instituto Lula por fazer o recolhimento das doações.
PF: Quem tem essa função de pedir dinheiro em nome do instituto?
Lula: A direção do instituto, isso é feito em qualquer instituto, isso vale…
PF: Alguma pessoa em específico?
Lula: Isso vale, não, deve ser o tesoureiro e o diretor financeiro do instituto.
PF:- Quem são?
Lula: Hoje eu acho que é o Celso Marcondes, mas isso funciona como qualquer instituto, do Fernando Henrique Cardoso, do Sarney, do Bill Gates, do Bill Clinton, do Kofi Annan.
Mais adiante, Lula continua a responder a perguntas sobre o instituto.
PF: Então é possível, por exemplo, que o próprio Paulo Okamotto ou a Clara Ant tenham pedido doações a qualquer empresa, entre elas a Camargo Correa?
Lula: É possível, é possível.
PF: Certo. O mesmo se aplica à OAS, ou seja…
Lula: A todas.
PF: Odebrecht?
Lula: A todas.
PF: Andrade Gutierrez?
Lula: Aos bancos…
PF: À UTC?
Lula: Todas, todas, todas.
PF: Queiroz Galvão…
Lula: Todas.
PF: Enfim, todas essas fizeram doações ao Instituto Lula…
Lula:- Não sei se todas fizeram.
PF: Não sabe?
Lula: Não sei, querido.
PF: Certo.
Lula: Você perguntou da, da…
PF: Camargo Correa…
Lula: Da Camargo Correa, eu disse que a imprensa já deu que a Camargo Correa tinha doado dinheiro para o instituto e disse que ela doou metade do que doou para o Fernando Henrique Cardoso, o restante…
PF: O senhor saberia dizer quem na Camargo Correa seria o interlocutor da Camargo Correa para fazer doação, ou da OAS?
Lula: Não sei. Não sei.
PF: Alguém da OAS, alguém da Andrade Gutierrez, que a gente possa verificar porque passou por essa pessoa?
Lula: Eu já disse para você que a mim não interessa discutir esses assuntos, não me interessa.
Lula interrompeu o interrogatório para ir tomar café e chegou a bater com os papéis à mesa de acordo com relatos de agentes que participaram do depoimento.
O Globo e Folha de SP

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