O novo ministro da Justiça,
Eugênio Aragão, disse, em entrevista ao jornal “Folha de S.Paulo”
publicada neste sábado (19), que não vai tolerar vazamentos de
investigações e disse que, se “cheirar” vazamento por um agente, a
equipe inteira será trocada, sem a necessidade de ter prova.
O presidente da Associação de Delegados da Polícia Federal (ADPF),
Carlos Eduardo Miguel Sobral, reagiu às declarações do novo ministro
dizendo que a entidade não compactua com vazamentos. A Federação
Nacional dos Policiais Federais (Fenapef) informou à “Folha” esperar que
a gestão do novo ministro foque na busca do equilíbrio dos ânimos
internos da PF.
Aragão é ligado ao PT e tomou posse na
quinta-feira (17) no lugar do ex-ministro Wellington César Lima e Silva,
que ficou apenas 11 dias no cargo após uma polêmica por ser integrante
do Ministério Público – condição que acabou impossibilitando a sua
permanência na vaga.
“Cheirou vazamento de investigação por um agente nosso, a equipe será
trocada, toda. Não preciso ter prova. A Polícia Federal está sob nossa
supervisão”, disse Aragão à “Folha”.
O presidente da ADPF rebateu: “Nós lamentamos profundamente as frases
do ministro da Justiça, que disse que trocará a equipe da investigação
Lava Jato sem qualquer prova, sem qualquer apuração, sem qualquer
indício de que há vazamento”, afirmou Sobral. Ele disse, ainda, a
entidade avalia tomar medidas judicias para evitar qualquer tipo de
afastamento sem prova.
O presidente da Fenapef, Luís Boudens, afirmou em comunicado que “é
compreensível a preocupação do novo Ministro da Justiça, Eugênio Aragão,
embora isso não atinja a autonomia investigativa da Polícia Federal”.
O novo ministro chega para comandar a
pasta depois de um bombardeio de críticas à atuação de José Eduardo
Cardozo, que deixou o cargo no fim de fevereiro. O PT do ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva não engolia a forma como Cardozo estava
conduzindo o ministério durante os desdobramentos da Operação Lava Jato.
Os vazamentos do conteúdo de
investigações foram alvo de constantes críticas do governo federal, que
tem sofrido pressão por parte de petistas para que haja um controle
maior do ministério da Justiça sobre a Polícia Federal.
Em uma das conversas interceptadas do
ex-presidente Lula, no dia 1º de março, ele conversa com o ministro da
Comunicação Social, Edinho Silva, sobre a indicação de Wellington César e
diz que a imprensa irá “encurralá-lo” para evitar que o ministro acabe
com os vazamentos.
“Essa é uma coisa que eu queria falar
com você, e a outra é o seguinte: é importante você ficar atento, porque
vai sair muitas críticas indicação do novo ministro, com o objetivo de
encurralá-lo”, disse Lula.
E continuou: “O objetivo é encurralá-lo. Crítica da ‘Veja’, crítico
do ‘Globo’, crítica da Globo, crítica… ou seja, no fundo, no fundo, eles
querem evitar que qualquer ministro acabe com o vazamento da Polícia
Federal”.
Em outra ligação no mesmo dia, Lula conversa com o prefeito do Rio de
Janeiro, Eduardo Paes, e critica o Ministério Público, dizendo que são
“enviados de Deus”.
“Olha, deixa eu lhe falar uma coisa. Esses meninos da Polícia Federal
e esses meninos do Ministério Público, eles se sentem ‘enviados de
Deus’”, afirmou Lula.
O ex-presidente disse ainda a Paes que se vê como a “chance que esse
país tem de brigar com eles para tentar colocá-lo no seu devido lugar”.
“Ou seja, nós criamos instituições sérias, mas tem que ter limites, tem
que ter regras”, completou.
Lula também critica, em outra ligação
com o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE) a CPI do Carf
na Câmara, que apura denúncias de venda de decisões favoráveis a
empresas com dívidas junto à Receita Federal. As suspeitas também estão
no foco da Operação Zelotes da Polícia Federal, que investiga pagamentos
feitos por investigados para a empresa de um dos filhos de Lula, Luís
Claudio Lula da Silva.
GLOBO
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