Uma das novas contas bancárias no
exterior atribuídas ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o
conecta ao ex-diretor Internacional da Petrobras Jorge Zelada, preso em
Curitiba e condenado em 1ª instância por corrupção passiva e lavagem de
dinheiro no esquema na estatal. Cunha é suspeito de ser beneficiário de
depósitos em 13 contas fora do país, em nome de offshores em paraísos
fiscais. O escritório de advocacia que criou uma dessas empresas também
criou as duas offshores usadas por Zelada para movimentar propina. Os
empreendimentos e o escritório de advocacia têm sede no Panamá.
O GLOBO revelou no último dia 11 que
Cunha é suspeito de receber propina em 13 contas no exterior, a maioria
na Suíça. Até agora, ele foi denunciado pela Procuradoria-Geral da
República por 4 dessas contas.
As outras 9 contas aparecem na delação
dos donos da Carioca, Ricardo Pernambuco e Ricardo Pernambuco Jr. Eles
entregaram 2 tabelas: em uma, listaram 5 contas em que há “certeza” de
terem sido indicadas por Cunha para receber propina a partir do projeto
do Porto Maravilha; na outra, constam 4 contas com “altíssima
probabilidade” de associação a Cunha no esquema.
A conta e a offshore que conectam
Eduardo Cunha a Jorge Zelada estão na segunda tabela indicada na delação
dos donos da Carioca. A tabela indica que a Kilbert Investments recebeu
repasse de US$ 150 mil no banco UBP, na Suíça, em 28 de junho de 2012. O
dinheiro é propina e foi transferido a partir de conta na Suíça operada
pelos empresários, diz a delação. Registros da Junta Comercial no
Panamá acessados pelo GLOBO mostram que a Kilbert é uma offshore criada
pelo escritório de advocacia Aleman, Cordero, Galindo & Lee. É o
mesmo que criou as offshores Tudor Advisory Inc. e Rockfield
International S.A., supostamente usadas por Zelada para movimentar
propina a partir de contratos da Petrobras.
ESPECIALIZADO EM OFFSHORES
O escritório usado para criar as
offshores é especializado nisso. Aparece como “agente residente” nos
registros oficiais das empresas panamenhas cujos depósitos no exterior
são atribuídos a Cunha e Zelada. A legislação daquele país estabelece
que o “agente residente” é necessário para registrar, constituir e
representar uma empresa criada no Panamá.
A Kilbert foi criada em 28 de novembro
de 2003, com capital social de US$ 10 mil, segundo a Junta Comercial do
Panamá. Em 30 de setembro de 2015, a sociedade foi desfeita. Foi no
mesmo dia em que Ricardo Pernambuco delatou Cunha ao Ministério Público
Federal, fornecendo as tabelas com 9 contas a mais cujos depósitos
teriam beneficiado o deputado. O filho do empresário, Ricardo Pernambuco
Jr., reiterou os mesmos dados em depoimento no dia seguinte. Ao todo,
as 9 contas receberam US$ 4,68 milhões, segundo os delatores.
O capital social da Tudor e da
Rockfield, atribuídas a Zelada, também é de US$ 10 mil cada. A primeira
foi criada em fevereiro de 2009 e teve a sociedade desfeita em maio de
2011. A segunda surgiu em janeiro de 2011. O escritório de advocacia que
aparece como “agente residente” das duas offshores é o mesmo de outra
empresa supostamente usada no esquema, a Pamore Assets Inc., esta com
depósitos em Mônaco atribuídos ao ex-diretor da estatal Renato Duque.
Na denúncia contra Cunha pelas primeiras
4 contas na Suíça, o procurador-geral Rodrigo Janot diz que Cunha foi
um dos responsáveis por indicar Zelada ao cargo na Petrobras; o senador
Delcídio Amaral (sem partido) disse em sua delação que o vice Michel
Temer chancelou a indicação de Zelada. A denúncia ao STF ainda não foi
analisada. Zelada, por não ter foro privilegiado, é investigado na 1ª
instância.
O GLOBO procurou Cunha e o advogado; eles não retornaram até o fechamento da edição.
O Globo
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