Partido da chanceler tem perdas nos três estados onde
foram realizadas eleições e vê avanço da AfD, que alcança até 24% dos
votos. Pleitos eram considerados um teste sobre o apoio à política para
refugiados de Berlim.
O eleitorado puniu o governo encabeçado pela chanceler federal Angela
Merkel neste domingo (13/03), quando três estados alemães elegeram seus
representantes nos respectivos parlamentos estaduais. A importância
política da data era tão grande que ela foi apelidada de "Superdomingo",
em alusão à "Superterça" da campanha pré-eleitoral para a Casa Branca.
As apurações parciais mostram que tanto em Baden-Württemberg e na
Renânia-Palatinado, no oeste, como na Saxônia-Anhalt, no leste, a União
Democrata Cristã (CDU), o partido de Merkel, teve perdas significativas,
de 3 a 12 pontos percentuais, em relação aos pleitos anteriores, de
2011.
Seu parceiro de coalizão em Berlim, o Partido Social-Democrata (SPD),
encarou números proporcionalmente ainda piores. Em contrapartida, a
legenda populista de direita Alternativa para a Alemanha (AfD) disparou
na escolha dos votantes.
Voto de protesto à CDU
Analistas são unânimes em atribuir tais resultados punitivos, em
especial, à política de portas abertas para os refugiados que a líder
alemã tem defendido e de que ainda tenta convencer os demais governos da
União Europeia, sem perspectivas de sucesso. Sua iniciativa de procurar
o apoio da Turquia na crise migratória igualmente lhe rendeu críticas,
inclusive dentro de seu partido.
Holger Schmieding, do Berenberg Bank, interpreta os números como "uma
séria advertência a Merkel, e o voto de protesto mais pronunciado que já
vimos". Para Carsten Nickel, da empresa de consultoria global Teneo
Intelligence, "o resultado vai aumentar o barulho dentro da CDU e
reduzir as opções do governo quanto aos migrantes e à Grécia". No
entanto, "a posição de Merkel no governo não está em risco".
Um anúncio causou estranheza nos meios políticos alemães e
possivelmente revela o amargor da chanceler federal com a reação popular
a sua política: contrariando o costume, ela se manteve nos bastidores
durante todo o dia de eleições e só vai se pronunciar a respeito nesta
segunda-feira.
Ultradireita lucra
Criada em 2013, no auge da crise europeia de endividamento, como
plataforma antieuro, a ultradireitista AfD teve uma ascensão meteórica. E
saiu como grande vencedora da noite, conquistando postos em todos os
três parlamentos estaduais. Com isso, passa a estar representada em oito
dos 16 estados alemães.
Como se esperava, o apoio mais forte foi na Saxônia-Anhalt, no
território da extinta Alemanha Oriental, onde a presença da direita
radical é apreensivamente crescente. Lá, a legenda obteve cerca de 24%
dos votos, ficando à frente até do SPD, partido de longa tradição e
integrante da coalizão governamental em Berlim.
Nos dois outros estados, os resultados também foram bons: mais de 15%
em Baden-Württemberg e acima de 12% na Renânia-Palatinado.
A AfD baseou sua campanha em slogans como "Proteger as fronteiras" e
"Chega do caos de asilo". Sua ascensão coincide com a de partidos
anti-imigração como a Frente Nacional (FN), da França.
"Temos problemas fundamentais na Alemanha que levaram a esse
resultado", comentou a líder da AfD, Frauke Petry. A política de 40 anos
fez manchetes recentemente por defender que a polícia recorresse a
armas de fogo para impedir a travessia ilegal das fronteiras nacionais.
Charlotte Knobloch, ex-presidente do Conselho Central dos Judeus na
Alemanha, lamentou a "tendência marcada para a direita". "Se os votantes
seguem o chamado dos populistas e extremistas de direita até esse
ponto, é falha dos partidos democráticos", comentou.
Verdes e SPD
Uma "surpresa esperada" foi o desempenho do Partido Verde em
Baden-Württemberg, com mais de 30% nas urnas, consagrando-se, pela
primeira vez, como o grupamento mais forte em um estado alemão.
Fortemente industrializado e extremamente conservador, por mais de
cinco décadas Baden-Württemberg foi o reduto da CDU. Porém, o desastre
de Fukushima tirou a CDU do poder e levou a uma coligação do Partido
Verde com o SPD em 2011. E, neste domingo, a CDU ficou 12 pontos
percentuais atrás de seu resultado naquelas eleições.
Como os social-democratas, atuais parceiros de coalizão do Partido
Verde no governo estadual, perderam 13 pontos percentuais, o governador
verde Winfried Kretschmann terá que negociar uma nova coalizão.
Para os social-democratas, a única boa notícia veio da
Renânia-Palatinado, onde ganharam 0,6 ponto percentual em relação a
2011. Malu Dreyer se confirmou como governadora do estado, vencendo
Julia Klöckner, da CDU, já apontada como eventual sucessora de Merkel na
Chancelaria Federal.
Nos outros dois estados, o Partido Social-Democrata amargou perdas de
mais de 10 pontos percentuais, ficando reduzido a apenas cerca da metade
de suas bases eleitorais, até então. Embora representantes do partido
neguem, alguns analistas creem que, no médio prazo, esses números possam
repercutir no futuro do líder partidário e vice-chanceler, Sigmar
Gabriel.
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