Um dia depois de ver a sua moradia desaparecer em meio a lama e
terra, Valdiceia Pereira da Silva, de 48 anos, tentava se ajeitar no
novo ”lar” temporário: o Centro Cultural de Franco da Rocha, um dos 23
municípios do estado de São Paulo castigado pelas fortes chuvas
registradas entre a noite de quinta-feira (10) e a madrugada de sexta
(11).
Na cidade, localizada ao norte da Grande São Paulo, uma
pessoa morreu e 240 ficaram desalojadas. A maioria foi para casa de
parentes ou amigos. Desses, 57 que não tinham para onde ir, estão
acomodadas em dois abrigos municipais dos quais 50 ocupam as instalações
do Centro Cultural, visitado neste sábado (12) pela manhã pela
presidenta Dilma Rousseff.
A presença da presidenta animou
Valdiceia que espera, a partir de agora, rapidez na entrega das chaves
da casa a que foi contemplada pelo Programa Minha Casa, Minha Vida.
“Espero sair daqui direto para o apartamento”. Ela disse ainda que foi
“um milagre” ter sobrevivido junto com o marido, o filho, de 32 anos, e o
neto, de 7 meses, quando a tromba d'água passou pelo barraco de madeira
onde viviam, no bairro Lago Azul Alto.
“Eu escutei um barulhinho e
acordei meu marido, que se levantou rápido e já foi mandando a gente
sair de lá. Foi o tempo do meu marido segurar uma tábua para a gente
passar e logo tudo caiu”, disse.
Além de servidores municipais muitos voluntários passaram o dia ajudando a atender os desabrigados que receberam kits de
higiene pessoal e alimentação. No almoço, foi servido arroz e frango. E
a todo instante chegavam donativos, principalmente, calçados e roupas.
Procura pelo filho
Em
meio aos desabrigados, uma situação bem peculiar chamava atenção no
Centro Cultural. Muito aflita, a moradora de São Paulo, Maria Raimunda
Marcílio Santos Oliveira, de 46 anos, procurava pelo filho de 20 anos,
que desapareceu, justamente, na noite das fortes chuvas. Ela disse que o
rapaz é deficiente mental e sempre vai para a casa da pastora de uma
igreja evangélica de Franco da Rocha. “Eu fui até a casa dela, mas ele
não chegou lá”, disse lamentando não tê-lo encontrado até aquela hora.
Franco
da Rocha é cortada pela Linha 8, Rubi, de trem da Companhia Paulista de
Trens Metropolitanos (CPTM) e ainda pelos rios Juqueri e Formoso e
também pelo Ribeirão Eusébio, que transbordaram e inundaram várias ruas
das áreas mais baixas da cidade. Muitas vias ainda estavam alagadas ou
cheia de barro neste sábado. Vários agentes de trânsito também
orientavam os motoristas sobre as mudanças de direção por causa dos
bloqueios, o que deixou o tráfego confuso durante o dia e com muito
congestionamento.
Na cidade, a única morte registrada até agora é
de um homem, segundo a prefeitura, ele foi resgatado próximo ao
supermercado Russi, no centro, ainda com vida, mas que morreu no
hospital. “Aparentemente ele tentou atravessar o alagamento e se
afogou”. diz a nota. Com isso, segundo o Corpo de Bombeiros, o número de
mortes até agora na tragédia subiu para 20. A corporação concentrou os
trabalhos deste sábado em busca de cinco desaparecidos em Mairiporã,
também na região metropolitana, onde cinco pessoas morreram e sete
ficaram feridas.
A prefeitura informou também que, a partir de
amanhã (13) , deve escoar toda a água dos pontos que continuavam
alagados hoje, no centro da cidade e na Vila Nossa Senhora Aparecida
porque “a represa Paiva Castro finalmente atingiu o nível ideal e as
comportas foram fechadas às 17h de hoje”.
A nota diz ainda que, no
encontro com a presidenta Dilma Rousseff e o governador Geraldo
Alckmin, foi reivindicada a liberação de recursos para a construção de
dois novos piscinões, na região do Jardim União, cujas áreas a
Prefeitura já desapropriou, e para a construção de moradias para as
pessoas que perderam suas casas.
A prefeitura liberou dois
endereços para receber donativos: na Rua Coronel Domingos Ortiz, 499, e
no Clube das Acácias. “Estamos precisando de material de higiene pessoal
e limpeza (principalmente fraldas descartáveis, tanto infantis quanto
geriátricas nos tamanhos P, M e G), colchões, roupa de cama, mamadeiras e
brinquedos. Mais informações no telefone 4800-7497.
Técnicos do
Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) e da Defesa Civil estão
fazendo o mapeamento das áreas de riscos em Mairiporã. Alguns locais
identificados são os bairros Parque Náutico, Flor da Bragança, Jardim
Carpi, Jardim Henrique Martins, Jardim Fernão Dias, Capoavinha, Jardim
Santana Jardim Brilha e Mato Dentro.
Na cidade vizinha, Francisco
Morato, a prefeitura informou que 280 pessoas estão desabrigadas e que a
grande maioria foi para a casa de parentes ou amigos. Na região, oito
pessoas morreram. Durante o dia, comerciantes do centro da cidade ainda
limpavam o barro nas calçadas. Em toda a cidade, podem ser vistos vários
pontos de queda de barreiras.
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