Não, nem Lula teve ainda essa coragem. Ele tem dito a Dilma que a
situação é muito ruim, mas que se todos se empenharem, dará, sim, para
arquivar na Câmara dos Deputados o pedido de impeachment.
Lula diz isso só por ouvir dizer. Ele mesmo, com o título de ministro
suspenso, e medo de ser preso pelo juiz Sérgio Moro, está mais
preocupado com seu destino do que com o destino de Dilma.
Na semana passada, quando telefonou para o vice-presidente Michel
Temer e perguntou se ainda havia na casa dele uma cachacinha gostosa
para os dois tomarem juntos, Lula parecia animado. Não está mais.
Temer concordou em recebê-lo. Mas no dia seguinte, cancelou o
encontro depois que Dilma convidou o deputado Mauro Lopes (PMDB-MG) para
ser ministro da Secretaria da Aviação Civil. Lopes aceitou o convite.
A recente convenção nacional do PMDB aprovou resolução proibindo seus
filiados de assumirem cargos no governo até que se decida se o partido
romperá com Dilma. A decisão será tomada na próxima terça-feira.
Lula tem tentado remarcar seu encontro com Temer, mas o
vice-presidente passou à clandestinidade. Sabe-se que estaria em São
Paulo, embora amigos dele informem que Temer voou para Lisboa.
A caça de Lula a Temer, e a de Dilma também, é uma demonstração
convincente de que Lula, Dilma e o governo estão totalmente perdidos,
sem encontrar saídas para a situação que enfrentam.
Quando se cobra que apontem saídas, apontam as óbvias que, a essa
altura, se revelam ineficientes. Por que imaginar que uma conversa com
Temer poderia manter o PMDB no governo?
Ora, Temer será o maior beneficiário do impeachment de Dilma. E, por
mais que negue, está tomando com discrição as providências necessárias
para governar em breve.
Dilma contou aos seus ministros de confiança que conversará com cada
um dos 65 deputados que integram a Comissão Especial do Impeachment.
Ela, que nunca gostou de conversar com políticos, dirá o quê para eles?
Mais: acenará com o quê para eles? Liberação de emendas ao Orçamento
para beneficiar os redutos eleitorais dos deputados? Não funcionará.
Falta dinheiro ao governo para tal.
Cargos no governo a serem preenchidos por indicação dos deputados?
Mas logo num governo que pode estar a poucos meses do seu fim? E quem,
no momento, quer correr esse risco? Vai que Moro fica sabendo…
Dilma – quem sabe? – poderá apelar para o patriotismo dos deputados e
prometer para breve o anúncio de importantes medidas que debelarão a
crise econômica e, por tabela, a política.
Quem acreditará? De resto, tudo o que Dilma possa oferecer, Temer
também poderá, e em dobro. E com uma vantagem: ele tem pinta de futuro.
Dilma, de passado. E de um passado triste.
No entorno da presidente, não existe um só auxiliar que acredite na
salvação dela. Todos já jogaram a toalha. E todos torcem para que ela
renuncie, abreviando sua agonia e a do país.
Por Ricardo Noblat
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