Em um sinal de que o desembarque do governo é apenas uma questão de
tempo, o PMDB aprovou neste sábado, durante a convenção do partido, uma
moção que proíbe peemedebistas de assumirem qualquer novo cargo no
governo.
O movimento foi feito com o aval do vice-presidente
Michel Temer, reconduzido à presidência da sigla com 96,5 por cento dos
votos, e resultou de um grande acordo para não dividir ainda mais o
legenda..
A moção teve endereço certo, o deputado federal Mauro
Lopes (MG), que tinha sua nomeação acertada para a Secretaria de Aviação
Civil, em um acordo fechado com a bancada mineira e com o aval do líder
do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani. O Palácio do Planalto esperava
apenas o resultado da convenção - e a certeza de que o partido não iria
desembarcar neste sábado - para anunciar Lopes, que indicou que ainda
pode aceitar o cargo, apesar da moção.
O clima na convenção e o
discurso dos principais caciques do partido não deixam dúvidas sobre o
caminho que o PMDB deve tomar. A Executiva do partido e o diretório
decidiram adiar em 30 dias a apreciação de moções que pedem a saída do
partido do governo - ou pelo menos a declaração da independência das
bancadas no Congresso--, mas isso não significa que o principal partido
da base aliada vai dar uma folga ao governo da presidente Dilma
Rousseff. O que se buscou foi apenas ganhar tempo para que o PMDB se una
em torno do vice-presidente Michel Temer, explicou o senador Romero
Jucá (PMDB-RR).
"Não há desembarque hoje. Há a construção de uma
unidade que até hoje o partido não teve", disse Jucá. "Em até trinta
dias todas as moções serão apreciadas pelo diretório nacional. É
importante esse tempo para que se possa ouvir a fazer um convencimento
para ser uma posição de todos".
"Se rompermos hoje, amanhã os
ministros não entregam o cargo e vai cada um para um lado", afirmou,
ressaltando que hoje a maioria do partido quer a saída do governo.
A
decisão pelo desembarque imediato esbarra na dificuldade de uma parte,
hoje minoritária, de abandonar os cargos conquistados. Dois dos
ministros peemedebistas - Hélder Barbalho, da Secretaria Nacional de
Portos, e Henrique Eduardo Alves, do Turismo - não tem cargos eletivos e
resistem a sair dos ministérios.
"Isso precisa ser tratado com
muita responsabilidade e discutido à exaustão o que é melhor para o
Brasil, até que o PMDB decida isso. Qualquer coisa além disso é forçar a
barra", afirmou Hélder Barbalho.
Alves tentou emplacar a ideia
de pelo menos estender para 60 dias o prazo para a reunião do diretório
que irá decidir sobre a saída do governo, mas não conseguiu convencer
seus companheiros de partido.
Também o PMDB do Rio de Janeiro
ainda resiste à saída. Com dois ministros indicados - Celso Pansera, da
Ciência e Tecnologia, e Marcelo Castro, da Saúde - o líder do PMDB na
Câmara, Leonardo Picciani desconversou ao tratar do desembarque.
"Já
era esperado, tem essas divisões. O importante agora é assinalar uma
unidade na chapa única, propondo soluções que não necessariamente sejam
impeachment", disse o deputado. "Vamos deixar falar". Minoria, Picciani
votou e deixou a convenção ainda no final da manhã.
Nos próximos
30 dias, até a reunião do diretório, o PMDB irá observar a temperatura
dos acontecimentos, das manifestações marcadas para este domingo à
abertura do processo de impeachment, que pode ser votada na Câmara nas
próximas duas semanas. Mas com a tendência de agravamento da situação de
Dilma Rousseff, dificilmente haverá uma reversão na posição do partido.
"A questão não é se vai sair, mas quando. Cada um tem seu
cronograma. Para o PMDB do Rio não interessa sair agora", afirmou uma
fonte próxima ao PMDB fluminense.
Quando isso acontecer, a
exigência será de que os ministros entreguem seus cargos, assim como
outros peemedebistas que ainda estão no governo. Fala-se inclusive em
submeter os desobedientes à comissão de ética.
"Os novos
integrantes, ao serem nomeados, foram informados de que poderiam ter que
expulsar quem não aceitasse sair dos cargos e questionados se se
sentiriam confortáveis", contou à Reuters uma fonte próxima a Michel
Temer.
"Enquanto corre o prazo, nesse período, por precaução, a
convenção aprovou uma moção de que nenhum companheiro pode assumir um
cargo no governo até o diretório nacional tomar a posição definitiva",
disse o presidente da Fundação Ulysses Guimarães, Moreira Franco.
"É
importante que se intente que a posição definitiva a ser tomada pelo
diretório será cumprida. Se votar o diretório pelo rompimento com o
governo os companheiros que têm cargos vão ter que deixar esses cargos.
Se não, terão que sair do PMDB."
Mas o deputado Mauro Lopes
indicou que pode desrespeitar a moção proibindo peemedebista de
assumirem novos cargos no governo federal. .
"Sou um deputado
totalmente independente, o que me dá liberdade para tomar decisões de
acordo com a minha consciência, eu continuo sendo governo", disse à
Reuters. "O PMDB não pode faltar ao país na hora difícil, o PMDB é o
partido do equilíbrio nacional.
TEMER
Reconduzido por mais
dois anos à presidência do partido, depois de um acordo para tentar
evitar um racha maior no PMDB, o vice-presidente Michel Temer não chegou
a voltar à Convenção depois de fazer seu discurso da manhã. Com a
plenária esvaziada, Temer ficou em casa, no Palácio do Jaburu, e foi
informado do resultado por Padilha.
Em seu discurso, Temer não se
comprometeu com a saída do governo, cobrada em diversos discursos, mas
não evitou críticas à condução econômica do governo e apresentou o
partido como uma alternativa para "unir o país". Depois de citar que
hoje o país não enfrenta problemas democráticos, Temer atacou a situação
econômica e política.
"Não podemos ignorar que o país enfrenta
gravíssima crise política e econômica. Não podemos deixar que os graves
problemas comprometam os substantivos ganhos sociais e nem a redução do
potencial e capacidade da economia nacional", disse o vice-presidente.
(Edição de Raquel Stenzel)Reuters
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