“Bom dia, garotada. Tudo legal? Deixa eu fazer uma pergunta: vocês acham que têm o crânio normal?”
Foi assim que o ministro da Saúde,
Marcelo Castro, iniciou nesta sexta-feira (11) uma “aula” em uma escola
pública do Distrito Federal sobre o aumento de casos de microcefalia no
país e o combate ao mosquito Aedes aegypti, que transmite dengue, zika e
chikungunya.
Vestido com uma camiseta com o slogan
“#zikazero”, símbolo da nova campanha do governo na saúde, Castro não
poupou elogios aos alunos do 6º ano do Centro Educacional 1, da Vila
Estrutural.
A tentativa de adotar um tom didático somado aos elogios, no entanto, acabou em novas gafes.
“Como é que chama a criança da cabeça pequena?”, perguntou, ao que alguns citaram “microcefalia” como resposta.
“Vocês que são alunos inteligentes. Pois
as crianças com microcefalia provavelmente não vão ter o mesmo
desenvolvimento da inteligência que vocês que têm o crânio normal
tiveram.”
As afirmações geraram um misto de
burburinho e incompreensão entre os alunos. Alguns não disfarçavam o
estranhamento. “Que palestra é essa, meu Deus? Criança com cabeça
pequenininha?”, perguntava aos colegas uma aluna do 6º ano, perto de
onde estava a reportagem.
Tentando aumentar o volume da voz para
chamar a atenção das crianças, Castro continuou com as comparações e
disse que crianças com microcefalia “provavelmente” não serão uma
“criança normal”.
“A criança com microcefalia
provavelmente não vai desenvolver o seu cérebro para ser uma criança
normal, que possa ir para a escola, aprender, ser educada e ter
autonomia e independência”, disse.
E emendou, citando o vírus zika, o qual
apontou como causador da “grande maioria” dos casos de microcefalia:
“Por isso estamos fazendo essa ação para combater o Aedes aegypti”.
“Está feito o pacto. Como vocês são
muito inteligentes, que aprendem tudo e têm o cérebro normal, vão fazer o
trabalho junto aos pais de vocês para não deixar nenhum criadouro do
mosquito”, disse.
‘SEM MEIAS-PALAVRAS’
Questionado ao fim do encontro se não
achava as comparações “inadequadas”, o ministro defendeu as afirmações.
Segundo Castro, exames em bebês diagnosticados com microcefalia
relacionada ao vírus zika apontam para um grau de comprometimento maior
do cérebro em comparação aos casos de microcefalia causados por outros
agentes infecciosos já conhecidos, como citomegalovírus e toxoplasmose.
“Não são todas as crianças que vão ter
retardo mental profundo. Mas as crianças estão sendo estudadas e
atendidas”, disse. “O padrão é o mesmo causado por infecção, mas o
comprometimento é muito mais profundo”, disse. “Temos que passar a
informação verdadeira. Estamos com um problema muito grave. Não podemos
usar meias palavras”, rebateu.
Ainda segundo Castro, que afirma ter
experiência como professor desde os 16 anos, “100% da população
brasileira está consciente” dos riscos atrelados ao vírus zika. “Por
isso, as palavras não podem deixar de serem ditas como devem”, afirmou.
Além das declarações, o encontro também
foi marcado por vaias de parte dos alunos na chegada do governador
Rodrigo Rollemberg e do ministro, Marcelo Castro. Durante o discurso do
governador, alguns alunos gritavam “fora!”.
INSPEÇÃO E CHORO
Horas antes da aula, Castro também
ministrou uma palestra para funcionários da Fiocruz em Brasília e
participou de uma “mini-inspeção” contra focos do mosquito no entorno do
edifício.
Ao citar que os casos de microcefalia
“não são números, mas seres humanos”, Castro interrompeu o discurso e
chorou. “Imagina o que é uma mãe de família olhar para sua criança com
microcefalia e saber que essa criança nunca vai ter autonomia para se
conduzir e que vai precisar a vida inteira de cuidados especiais?”,
justificou.
Para o ministro, a previsão é que a
redução no número de casos de doenças causadas pelo Aedes aegypti, que
costuma ocorrer com a diminuição no período de chuvas, em maio, seja
“mais rápida” neste ano devido à intensificação da campanha contra o
mosquito.
Nenhum comentário:
Postar um comentário