Na reta final de seu governo,
quando agitações políticas formavam terreno próspero para o golpe
militar, o então presidente João Goulart chamou seu ex-ministro do
Trabalho Almino Affonso para uma conversa.
Segundo Almino, Jango se disse num
impasse. Era preciso fazer as reformas propostas, porque os apoiadores
cobravam, mas elas nunca passariam. A situação econômica piorava e o
governo não tinha apoio no Congresso – a oposição batia cada vez mais
forte.
Dali a poucos meses, o
então deputado foi um dos responsáveis por alertar o presidente sobre os
generais que saiam de Minas Gerais. Jango foi derrubado e teve início a
ditadura militar no País.
Hoje com 86 anos, o
advogado amazonense familiarizado com as ameaças à democracia se diz
angustiado com o momento político do País. Apesar de considerar “uma
bobagem” a hipótese de que um golpe contra o governo esteja se
desenrolando hoje, ele disse temer pelo futuro das instituições.
“Alguns entreveriam algo
contra o que está (no poder), contra o Lula, o meu medo é muito mais
amplo”, afirmou. “Temo que, com a crise política e econômica e a falta
de lideranças que assumam como deveriam o desafio, o país mergulhe num
impasse institucional.”
Para Almino, que conviveu
com figuras como Tancredo Neves e foi conselheiro de Lula, não há
líderes políticos. Nem nos Estados (“não encontro um”), nem no
Congresso, nem no governo (Dilma é “incapaz”). Até a figura de Lula, que
diz admirar, tem sua grandeza “diluída” frente às acusações de
corrupção.
O ex-deputado fala de um
vazio no poder. Mesmo favorável ao impeachment, “instituição prevista na
Constituição”, se preocupa com a sucessão de Dilma e diz que era mais
fácil diagnosticar os problemas às vésperas da ditadura militar. “O que
me angustia é que você está em um país sem horizonte.”
Terra
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