Em grampo da Operação Aletheia, o
ex-presidente Lula combinou com o então ministro chefe da Casa Civil
Jaques Wagner que não iria a Brasília “por conta da saída do rapaz”.
“Rapaz”, na avaliação dos investigadores, era uma referência ao
ex-ministro da Justiça José Eduardo Cardozo, hoje ministro chefe da
Advocacia Geral da União (AGU).
Oficialmente, Cardozo pediu para sair da
Justiça, o que ocorreu dias antes do estouro da Aletheia, missão
integrada da Polícia Federal e da Procuradoria da República que pegou
Lula – essa investigação mira o Instituto Lula e a LILS Palestras e
Eventos, do ex-presidente, e atribui ao petista a propriedade do sítio
Santa Bárbara, localizado no município de Atibaia, interior de São
Paulo, o que é negado veementemente pela defesa.
O grampo é de 1º de março, 8h19. O
diálogo mostra que o ex-presidente estava de viagem marcada para
Brasília. A cadeira de Cardozo na pasta da Justiça foi assumida pelo
subprocurador geral da República Eugênio Aragão.
Lula era um crítico de Cardozo porque o ex-ministro não teria controle sobre a Polícia Federal.
Três dias depois da conversa com Wagner,
o ex-presidente foi pego na Aletheia e conduzido coercitivamente para
depor em uma sala no Aeroporto de Congonhas em São Paulo. Foram quase
três horas de depoimento.
“Ô galego, deixa eu te dizer uma coisa. Eu tava pensando se não era o caso de eu não ir a Brasília hoje”, disse Lula.
“Por conta da saída do rapaz”, respondeu Jaques Wagner.
“Por conta da saída do rapaz, ou seja…”
“Isso ela (presidente Dilma Rousseff) se
preocupou ontem.. depois vão dizer que ele (Lula) só veio aqui prá
comemorar o bota fora.”
“É isso, então eu acho que era melhor eu não ir, sabe?”, disse Lula.
“Deixar prá semana”, disse Wagner.
“Deixar prá semana porque você veja, o
Globo já fez editorial, acho que era importante alguém responder sabe,
editorial tentando cagar em cima do governo.”
“Eu nem vi, dizendo o quê?”, perguntou o então ministro da Casa Civil.
“Ah, mostrando que essa troca (no Ministério da Justiça) não pode significar.. é colocando medo no novo ministro da Justiça.”
“Não, e dizendo que eu que arrumei um cara prá poder resolver, é isso?”
“É isso.”
“Você vê que eu sou foda, né?”
“Então, eu tava pensando em não ir hoje não, Wagner… você conversar com ela é melhor.”
“Tá bom, ela teve a mesma preocupação que você, tanto que ficou é melhor sexta… é melhor quarta.”
Lula muda de assunto:
“Eu tive uma bela reunião com a CUT ontem, com todo o bureau central da CUT… muita raiva, mas muita compreensão.”
“Muita raiva, né?”
“É, mas muita compreensão também. Eu
falei com eles, sabe? Eles querem conversar, sabe, o que acontece é que
eles precisam ser tratados com um pouco mais de carinho caraio, eles são
aliados é? Então deixa eu te contar, fala com ela que é melhor ficar
prá outro dia. Pode ser essa semana ainda, pode ser a semana que vem.
Como é que tá a agenda dela?”
“Fim de semana se ela topar tudo bem, também?”, sugeriu Wagner.
“Tudo bem.”
“Bom eu vou conversar com ela a gente volta a se falar.”
“Tudo bem. Ela já tinha levantado essa preocupação ontem”, reiterou o então ministro da Casa Civil.
“Ah perfeito, um abraço, tchau.”
O Instituto Lula não comenta os grampos da Operação Aletheia.
UOL, com Estadão
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