Segundo o senador, um “triunvirato”, formado pelos ex-ministros
Erenice Guerra, Antônio Palocci e Silas Rondeau, movimentou cerca de R$
25 bilhões e desviou pelo menos R$ 45 milhões dos cofres públicos
diretamente para as campanhas eleitorais do PT e do PMDB em 2010 e 2014.
Nas duas disputas presidenciais os partidos estavam coligados na chapa
liderada por Dilma Rousseff. “A propina de Belo Monte serviu como
contribuição decisiva para as campanhas eleitorais de 2010 e 1014”,
afirmou o ex-líder do governo no Senado aos procuradores.
Denúncias sobre corrupção nas obras de Belo Monte já haviam sido
feitas por outros delatores, mas é a primeira vez que uma testemunha
revela com detalhes como funcionava o esquema, qual o destino do
dinheiro desviado e aponta o nome dos coordenadores de toda a operação. A
delação feita por Delcídio leva as investigações sobre o propinoduto
petista nos setores de energia e de infraestrutura para as antessalas do
gabinete presidencial. Desde 2003, Erenice é tida como uma escudeira da
presidente Dilma e mesmo após deixar o governo, sob a acusação de
favorecer lobistas ligados a seu filho, permanece como uma das poucas
interlocutoras de Dilma.
Depois de homologada pelo STF, a delação de Delcídio deverá ser
encaminhada ao Tribunal Superior Eleitoral e engrossar o processo que
pede a cassação da presidente. Os relatos feitos pelo senador mostram
que a operação montada para desviar dinheiro público de Belo Monte foi
complexa e contínua. Começou a ser arquitetada ainda no leilão para a
escolha do consórcio que tocaria a empreitada, em 2010, e se desenrolou
até pelo menos o início do ano passado, quando a Lava Jato já estava em
andamento. Tida como obra prioritária do governo e carro chefe do PAC,
Belo Monte era acompanhado de perto pela chefia da Casa Civil, onde
estavam Dilma, então ministra, e Erenice Guerra, secretária executiva.
“A atuação do triunvirato formado por Silas Rondeau (ex-ministro de
Minas e Energia), Erenice Guerra (ex-ministra da Casa Civil) e Antônio
Palocci (ex-ministro da Fazenda) foi fundamental para se chegar ao
desenho corporativo e empresarial definitivo do projeto Belo Monte”,
afirmou Delcídio aos procuradores da Lava Jato. Em sua delação, o
senador explica que os desvios de recursos do projeto da usina vieram
tanto do pacote de obras civis como da compra de equipamentos. “Antônio
Palocci e Erenice Guerra, especialmente, foram fundamentais nessa
definição”, revelou o senador.
Ele afirmou que as obras civis consumiram cerca de R$ 19 bilhões e a
compra de equipamentos chegou a R$ 4,5 bilhões. De acordo com os relatos
feitos pelo ex-líder do governo, em todas as etapas do processo houve
superfaturamento. Entre os procuradores que já tomaram conhecimento da
delação de Delcídio há a convicção de que Erenice era a principal
operadora do triunvirato, uma vez que antes de assumir o cargo na Casa
Civil trabalhou, ao lado de Dilma, no Ministério de Minas e Energia,
responsável pelas obras da usina.
Delcídio afirmou que o triunvirato de Erenice começou de fato a
operar três dias antes da data marcada para o leilão que escolheria o
consórcio responsável pelas obras. O grupo formado pelas maiores
empresas de engenharia do País desistiu da disputa. “Em algumas horas
foi constituído um novo grupo de empresas que venceu o leilão, tendo
sido a única proposta apresentada”, afirmou o senador. Entre essas
empresas estão a Queiroz Galvão, Galvão Engenharia, Contern, JMalucelli,
Gaia Engenharia, Cetenco, Mendes Jr Trading Engenharia e
Serveng-Civilsan.
“Alguns meses depois da realização do certame, várias empresas que
não bidaran (não participaram no leilão) Belo Monte tornaram-se sócias
do empreendimento e contrataram como prestadoras de serviço as empresas
do consórcio vencedor”, relatou Delcídio. Com essa operação, as maiores
empreiteiras do País passaram a mandar na construção sem se submeterem
às regras impostas nas licitações convencionais. O ex-líder do governo
no Senado afirmou aos procuradores da Lava Jato que durante as campanhas
eleitorais aumentava o valor das propinas e que para isso as empresas
recorriam a “claims”, instrumento usado para readequar valores de
contratos.
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