Morreu na manhã desta sexta-feira no Rio de Janeiro, aos 79 anos, o
crítico de cinema José Carlos Avellar, um dos mais respeitados
profissionais desse campo no Brasil, ofício que o fez alcançar também
reconhecimento internacional. Entre 2006 e 2011, Avellar foi o
responsável, junto com Sérgio Sanz, pela curadoria do Festival de Cinema
de Gramado, trabalho que fez o então combalido evento gaúcho retomar
seu prestígio como um dos mais importantes do país.
Nascido na cidade do Rio de Janeiro em 15 de dezembro de 1936,
Avellar formou-se em jornalismo e exerceu a crítica de cinema por mais
de 20 anos no Jornal do Brasil, atividade que passou a conciliar com a
de escritor (é autor trabalhos referenciais sobre o cinema brasileiro e
latino-americano), gestor de espaços culturais voltados à cinefilia e
interlocutor no Brasil de festivais internacionais como os de Cannes,
Berlim e Veneza. Foi ainda presidente da distribuidora Riofilme nos anos
1990, período que marcou a chamada retomada da produção nacional, e
consultor do projeto Petrobras Cultura. Atualmente, Avellar era o
responsável pela programação e curadoria de cinema do Instituto Moreira
Salles, trabalho que envolvia tanto salas de exibição quanto o
lançamento de DVDs pelo selo IMS.
Embora tenta participado da realização de filmes exercendo diferentes
funções, nos anos 1960 e 70, Avellar vislumbrou que pensar o cinema lhe
seria mais gratificante do que fazer cinema. Ao longo de sua trajetória
como crítico e ensaísta, ele consagrou um estilo particular de análise,
no qual combinava a erudição em diferentes campos das artes e do
pensamento com o profundo conhecimento da história do cinema. Avellar
tinha o talento de dissecar e iluminar um filme a partir de um elemento
particular, de uma determinada cena ao contexto político e social nele
espelhado.
CONDECORAÇÃO
Em dezembro de 2006, o crítico foi condecorado pelo governo francês
com a láurea de Chevalier des Arts et Lettres. Naquele mesmo ano,
Avellar havia iniciado seu trabalho na curadoria do Festival de
Gramado.
— Cada festival, dependendo do lugar em que ocorra, da época em que
se realiza, do projeto que desenvolva, busca uma cara própria. Pensamos
em Gramado não em comparação a outros festivais, mas sim em relação à
atividade cinematográfica no Brasil. Hoje não basta dar um prêmio e
dizer "esse filme é legal". A ação de um festival se confronta com
outros tipos de promoção, como publicidade e marketing. Os festivais
hoje não se constituem em torno da competição — disse Avellar a Zero
Hora à época.
Sob sua gestão curatorial, o festival gaúcho incorporou novidades
como um júri formado por estudantes de cinema e ampliou o foco na
seleção de filmes. Abriu-se espaço para produções de países periféricos
da América Latina e para trabalhos tanto de novos diretores quanto de
veteranos como Andrea Tonacci, consagrado com seu Serras da Desordem no
festival de 2006. O trânsito de Avellar pelos grandes festivais
internacionais colocou na rota de Gramado títulos como o mexicano El
Violin, premiado em Cannes, e o peruano A Teta Assustada, ganhador do
Urso de Ouro em Berlim.
— O parceiro natural da cinematografia brasileira é o cinema
latino-americano, que tem semelhanças em técnicas de produção, soluções
formais, dificuldades de mercado — afirmou Avellar, que também observou
na ocasião a irreversível transição tecnológica em curso na indústria
cinematográfica. — O que se fazia antigamente em Super-8 hoje se faz em
digital. Por que não prestar atenção em quem faz cinema em digital. Por
que não discutir se tem gente no Rio Grande do Sul fazendo filme para a
Internet, para telefone celular. É possível que surja uma expressão
audiovisual adequada pra isso.
Fonte: Zero Hora
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