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domingo, 20 de março de 2016

Crítico de cinema José Carlos Avellar morre no Rio de Janeiro


Morreu na manhã desta sexta-feira no Rio de Janeiro, aos 79 anos, o crítico de cinema José Carlos Avellar, um dos mais respeitados profissionais desse campo no Brasil, ofício que o fez alcançar também reconhecimento internacional. Entre 2006 e 2011, Avellar foi o responsável, junto com Sérgio Sanz, pela curadoria do Festival de Cinema de Gramado, trabalho que fez o então combalido evento gaúcho retomar seu prestígio como um dos mais importantes do país. 
Nascido na cidade do Rio de Janeiro em 15 de dezembro de 1936, Avellar formou-se em jornalismo e exerceu a crítica de cinema por mais de 20 anos no Jornal do Brasil, atividade que passou a conciliar com a de escritor (é autor trabalhos referenciais sobre o cinema brasileiro e latino-americano), gestor de espaços culturais voltados à cinefilia e interlocutor no Brasil de festivais internacionais como os de Cannes, Berlim e Veneza. Foi ainda presidente da distribuidora Riofilme nos anos 1990, período que marcou a chamada retomada da produção nacional, e consultor do projeto Petrobras Cultura. Atualmente, Avellar era o responsável pela programação e curadoria de cinema do Instituto Moreira Salles, trabalho que envolvia tanto salas de exibição quanto o lançamento de DVDs pelo selo IMS.


Embora tenta participado da realização de filmes exercendo diferentes funções, nos anos 1960 e 70, Avellar vislumbrou que pensar o cinema lhe seria mais gratificante do que fazer cinema. Ao longo de sua trajetória como crítico e ensaísta, ele consagrou um estilo particular de análise, no qual combinava a erudição em diferentes campos das artes e do pensamento com o profundo conhecimento da história do cinema. Avellar tinha o talento de dissecar e iluminar um filme a partir de um elemento particular, de uma determinada cena ao contexto político e social nele espelhado. 
CONDECORAÇÃO
Em dezembro de 2006, o crítico foi condecorado pelo governo francês com a láurea de Chevalier des Arts et Lettres. Naquele mesmo ano, Avellar havia iniciado seu trabalho na curadoria do Festival de Gramado. 
— Cada festival, dependendo do lugar em que ocorra, da época em que se realiza, do projeto que desenvolva, busca uma cara própria. Pensamos em Gramado não em comparação a outros festivais, mas sim em relação à atividade cinematográfica no Brasil. Hoje não basta dar um prêmio e dizer "esse filme é legal". A ação de um festival se confronta com outros tipos de promoção, como publicidade e marketing. Os festivais hoje não se constituem em torno da competição — disse Avellar a Zero Hora à época. 
Sob sua gestão curatorial, o festival gaúcho incorporou novidades como um júri formado por estudantes de cinema e ampliou o foco na seleção de filmes. Abriu-se espaço para produções de países periféricos da América Latina e para trabalhos tanto de novos diretores quanto de veteranos como Andrea Tonacci, consagrado com seu Serras da Desordem no festival de 2006. O trânsito de Avellar pelos grandes festivais internacionais colocou na rota de Gramado títulos como o mexicano El Violin, premiado em Cannes, e o peruano A Teta Assustada, ganhador do Urso de Ouro em Berlim. 
— O parceiro natural da cinematografia brasileira é o cinema latino-americano, que tem semelhanças em técnicas de produção, soluções formais, dificuldades de mercado — afirmou Avellar, que também observou na ocasião a irreversível transição tecnológica em curso na indústria cinematográfica. — O que se fazia antigamente em Super-8 hoje se faz em digital. Por que não prestar atenção em quem faz cinema em digital. Por que não discutir se tem gente no Rio Grande do Sul fazendo filme para a Internet, para telefone celular. É possível que surja uma expressão audiovisual adequada pra isso.
Fonte: Zero Hora

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